quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

E D I T O R I A L                                        
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 A Polícia Militar de Alagoas atravessa uma das maiores crises de sua história. Não se trata de uma crise institucional somente. O problema é mais agudo no tocante às relações humanas dentro da corporação, ironicamente comandada por um grupo de oficiais que se acreditava mais avançado em ideias. A PM segue com um enorme contingente de homens e mulheres desestimulados que simplesmente não pode mais ser ignorado. Homens e mulheres que, em sua maioria, contam nos dedos o tempo de protocolar o requerimento para ingressar na reserva e sentirem-se livres, não do trabalho, mas de grilhões forjados por regras e comportamentos rígidos e estranhos ao avanço democrático da sociedade brasileira. Há um descontentamento geral. As escalas de serviço são uma unanimidade em reclamações. Elas não respeitam o fato de que a categoria exerce a profissão mais arriscada do País, com um índice brutal de vitimização de policiais. Elas são feitas no velho molde “missão dada é missão cumprida”. Mas, nesses novos tempos, uma pergunta não cala: que tipo de missão e quais as condições ideais para executá-la? As escalas se apoiam na indefinição injustificada de uma carga horária. Surgirá quem diga que “o militar é superior ao tempo”, uma frase que poderia ter sentido somente no campo da mitologia. Por baixo da farda há carne e osso; há dor e sofrimento, e não deuses do Olimpo. As escalas igualmente ignoram outros fatores de risco: exposição a altas temperaturas dentro de viaturas e mini postos policiais (box), exposição ao sol, problemas de coluna causados pelo peso de equipamentos como armas, coletes, bastões e outros apetrechos bélicos e assentos inadequados, estresse causado pelo perigo de morte constante, problemas de audição resultantes da exposição ao trânsito, a sirenes e rádios das viaturas, e alimentação inadequada em certos turnos de trabalho, principalmente em regiões de difícil acesso. A corporação simplesmente ignora tais fatores. O mais difícil e angustiante é entender essa insensibilidade institucional. Os profissionais da PM, quando exigem respeito e segurança no trabalho, direito de todo trabalhador e dever do Estado, ao invés de atendidos, são criminalizados. Há uma inversão de valores. A hierarquia e a disciplina sempre foram mostrados como base da corporação militar. Ledo engano. Elas são a base da organização administrativa de qualquer corporação. A verdadeira base e esteio de uma instituição são os seres humanos. Sem eles nada faz sentido. Quem você levaria ao cinema? A hierarquia, ou a disciplina? Nesse caso, o homem é, de fato, “a medida de todas as coisas”. Se as bases não estão firmes toda a estrutura corre perigo. Essa situação demonstra que o comando da corporação carece de um plano de gestão. O planejamento precisa envolver a todos, do contrário, não é um plano, mas a pura e simples vontade de quem manda. As perseguições aos que “alopram” demonstram isso. Um projeto de gestão amplamente discutido não tem lugar para perseguições. Tem lugar para ideias e práticas saudáveis e de caráter universal. Assim como em Alagoas, as demais polícias militares carecem de reformulação urgente. Toda a gigantesca estrutura dessas corporações se assenta no modelo de quartel herdado do Exército, cuja missão não é de segurança pública, mas de defesa da Pátria. Todas as policiais militares do Brasil, absolutamente todas, possuem uma percentagem de efetivos que não atua, nem nunca atuará diretamente na atividade fim. Tendo consciência disso, fica mais fácil não querer compensar essa evasão de contingente sacrificando os que estão encarregados do trabalho policial nas ruas. A crise na PM só será contornada - com claros benefícios para a sociedade - quando os homens e mulheres sentirem orgulho da profissão. A valorização é a condição sine qua non dessa transformação; o modo pelo qual a reserva virá naturalmente, e não como a única saída para os problemas dos policiais militares.